GONORREIA – SINTOMAS, TRANSMISSÃO E TRATAMENTO
O que é a gonorreia?
A gonorreia é uma DST (doença sexualmente transmissível) que acomete homens e mulheres e é causada por uma bactéria chamada Neisseria gonorrhoeae, também conhecida como gonococo.
A bactéria passa de uma pessoa para outra através de qualquer forma de sexo desprotegido. Indivíduos com vários parceiros sexuais ou pessoas que não usam preservativo são aqueles que correm maior risco de serem contaminados.
A gonorreia é uma das doenças sexualmente transmissíveis mais comuns em todo mundo, havendo cerca de 200 milhões de novos casos anualmente (leia: O QUE É DST? ). A bactéria Neisseria gonorrhoeae infecta homens e mulheres de modo semelhante, apesar dos sintomas serem menos óbvios no sexo feminino (explico adiante).
A incidência da doença é maior entre os 15 e 24 anos, idade onde é comum haver intensa atividade sexual sem a devida proteção. Apesar da maior incidência na juventude, esta DST pode ocorrer em qualquer idade se o paciente apresentar estilo de vida promiscuo ou não costumar usar preservativos com novos parceiros(as) sexuais. A ocorrência de gonorreia em crianças costuma ser um sinal de abuso sexual.
A gonorreia é a principal causa de uretrite, isto é, inflamação da uretra, canal que drena a urina da bexiga. O gonococo pode crescer facilmente em áreas quentes e úmidas do nosso trato reprodutivo, incluindo o colo do útero, o útero, as trompas de Falópio e a uretra. A bactéria também pode crescer na boca, garganta, olhos e ânus.
Formas de transmissão
A transmissão do gonococo só é feita de duas maneiras: pela via sexual (oral, vaginal e anal) ou entre mãe e filho durante o parto. Não há descrições de transmissão da gonorreia através banheiros públicos ou piscinas. Partilhar objetos sexuais, como vibradores, também pode ser uma via de transmissão. A transmissão através de toalhas ou roupas íntimas é pouco comum.
A gonorreia pode ser transmitida mesmo quando o paciente infectado não apresenta sintomas. Também não é necessário haver ejaculação para ocorrer a transmissão. Basta o ato sexual.
Estima-se que a chance de transmissão após uma única relação sexual desprotegida com parceiro(a) infectado(a) esteja entre 50 e 70%. Quando a relação ocorre mais de uma vez, o risco de contaminação sobe para mais de 90%. A camisinha é o melhor método para diminuir a possibilidade de transmissão (leia: CAMISINHA | Tudo o que você precisa saber ).
O período de incubação da gonorreia, ou seja, o espaço de tempo entre o contágio e o surgimento dos primeiros sintomas, varia de 2 a 8 dias.
Sintomas
O principal sintoma da gonorreia é a uretrite (inflamação da uretra). Os sintomas da uretrite são corrimento purulento (de aspecto leitoso) e ardência ao urinar, chamada de disúria (leia: DISÚRIA | DOR AO URINAR | Causas ).
A gonorreia costuma ser evidente nos homens, mas é comum passar despercebida no sexo feminino. Enquanto 90% dos homens apresentam sintomas de uretrite, até 50% das mulheres podem apresentar uma infecção assintomática, não tendo ciência de que estão infectadas. Essa particularidade faz com que as complicações sejam mais comuns no sexo feminino, já que, se nada sentem, as mesmas não procuram tratamento médico.
Sintomas da gonorreia nos homens
Mais de 90% dos homens infectados pela bactéria
Neisseria gonorrhoeae apresentam sintomas perceptíveis de gonorreia. A uretrite é manifestação clínica mais comum e se manifesta como uma secreção espontânea de pus pela uretra, com aspecto leitoso, capaz de manchar as roupas íntimas. Outro sintoma comum da uretrite é a disúria (dor ou desconforto na hora de urinar). A intensidade da disúria é variável de caso a caso, podendo ser bastante incômoda para alguns pacientes e quase imperceptível para outros.
Uma complicação relativamente frequente da gonorreia nos homens é a infecção do epidídimo (pequeno ducto, localizado acima dos testículos, que coleta e armazena os espermatozoides), provocando dor e edema unilateral na bolsa escrotal (leia: DOR NOS TESTÍCULOS | Principais causas ).
Homens que têm relações sexuais com outros homens podem também apresentar infecção pelo gonococo na região anal ou na garganta (faringe), transmitidos respectivamente pelo sexo anal e oral. A contaminação pelo gonococo em áreas não genitais não costuma causar sintomas, sendo pouco frequente a ocorrência de faringite ou proctite (infecção anal) pelo gonococo. Quando a proctite ocorre, os sintomas mais comuns são dor ao evacuar, saída de secreção purulenta pelo ânus, coceira ou dor anal.
Sintomas da gonorreia nas mulheres
Ao contrário do que ocorre nos homens, a gonorreia pode não causar sintomas relevantes nas mulheres. Na maioria dos casos, a bactéria ataca o colo do útero e apenas 50% das pacientes infectadas apresentam coceira, dor durante o ato sexual e corrimento vaginal purulento (leia:
CORRIMENTO VAGINAL | VAGINITE). Se houver grande inflamação do útero é possível haver também escapes de sangue pela vagina.
Homens jovens não costumam ter infecção urinária, por isso o quadro de disúria (ardência para urinar) habitualmente indica a existência de uma uretrite causada por uma DST. Como nas mulheres a infecção urinária é um quadro relativamente comum, a disúria da gonorreia pode ser erradamente diagnosticada como uma cistite (leia: INFECÇÃO URINÁRIA ( CISTITE )). Nas mulheres, o diagnóstico clínico de DST fica mais fácil se além da disúria também houver corrimento vaginal, já que na cistite este último não ocorre.
Assim como nos homens homossexuais, nas mulheres também é possível haver infecções da faringe e do ânus pelo gonococo.
Complicações
Quando não tratada, a gonorreia pode levar a um grande número de complicações. Nos homens o mais comum é a infecção dos testículos e da próstata. Nas mulheres, a pior complicação é a doença inflamatória pélvica (DIP), uma infecção grave dos órgãos reprodutores, que acomete o útero, ovários e trompas (leia: DOENÇA INFLAMATÓRIA PÉLVICA – Causas, Sintomas e Tratamento ). Em ambos sexos pode ocorrer estreitamento da uretra e infertilidade.
O Gonococo não tratado também pode levar à disseminação da doença pelo corpo. A gonorreia disseminada causa:
Artrites infecciosas em joelho, tornozelos e cotovelos.
Lesões de peles (pequenos pontos purulentos principalmente em mãos e pés).
Acometimento do fígado, com hepatite (leia: AS DIFERENÇAS ENTRE AS HEPATITES ).
Endocardite (infecção das válvulas do coração) (leia: O QUE É ENDOCARDITE? ).
Meningite (leia: MENINGITE ).
Osteomielite (infecção dos ossos).
Além da doença disseminada, a gonorreia não tratada em grávidas pode ocasionar parto prematuro e infecção do recém-nascido, causando graves lesões oculares.
Diagnóstico
O diagnóstico é geralmente feito através da análise do corrimento purulento. Uma pequena escova pode ser usada para colher material da uretra do homem ou do colo do útero na mulheres. Em alguns casos a urina também pode ser usada para o diagnóstico.
Tratamento
O tratamento da gonorreia é simples, sendo feito da mesma maneira para homens e mulheres. Atualmente indica-se o tratamento com dose única de antibiótico.
O tratamento para as formas não complicadas é geralmente feito com Ceftriaxona intramuscular na dose de 250 mg. Este esquema tem taxa de cura de 99%. Azitromicina 1 grama também em dose única pode ser uma opção, mas taxa de sucesso é mais baixa e os efeitos colaterais são mais comuns.
O parceiro deve ser sempre investigado e tratado. Indica-se abstinência sexual até que todos os sintomas desapareçam. Nos casos assintomáticos, deve-se evitar relações por pelo menos 1 semana após o tratamento. É possível contrair gonorreia mais de uma vez na vida.
Tratamento conjunto de gonorreia e clamídia
A clamídia é uma DST causada por uma bactéria chamada Chlamydia trachomatis. Estima-se que seja a doença sexualmente transmissível mais comum no mundo. A infecção pala Clamídia apresenta basicamente o mesmo quadro clínico da gonorreia, porém, com sintomas menos intensos.
A diagnóstico diferencial entre a clamídia e gonorreia é feito somente através do exame microscópico do corrimento. Apenas pelos sintomas é impossível distinguir as duas doenças, já que até as complicações são semelhantes. Também é importante salientar que não é incomum o paciente se infectar com as duas bactérias ao mesmo tempo.
Como o tratamento da infecção por clamídia também é simples, a distinção com a gonorreia, em geral, não é necessária. O médico costuma prescrever um esquema antibiótico que atue contra as duas infecções.
Azitromicina em dose única é o antibiótico mais prescrito contra a clamídia. Uma alternativa é usar Doxiciclina 100 mg 2 vezes por dias por 7 dias.
Portanto, o esquema clássico para o tratamento de uretrites com corrimento é Ceftriaxona + Azitromicina em dose única. Deste modo, obtém-se cobertura tanto para infecções por gonococo quanto por clamídia. É um tratamento simples, rápido e com alto índice de cura, que pode ser indicado sem a necessidade de maior investigação clínica.
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